terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Apartheid Homofóbico


Estamos vivendo a obscenidade de um apartheid em pleno século XXI. Agora, entretanto, não é por cor da pele, mas por orientação sexual. Na última semana, Silas Malafaia deu uma entrevista em que demonstrou uma visão um tanto quanto questionável em relação aos homossexuais, não os considerando como seres humanos sãos. Citou que eles iriam para o inferno, embasando-se em uma passagem da bíblia.
No entanto, paremos para pensar: hoje se considera ultrapassado quando se diz, baseados também na bíblia, que o homem deve ser o cabeça e que a mulher deve ser submissa. Por que, então, essa sentença condenatória aos homossexuais também não estaria superada?

Dizer “amo o homossexual, mas abomino a homossexualidade (enquanto pensa que ele irá para o inferno se não mudar)” é um tanto quanto hipócrita. Esqueceram que Deus disse o mesmo? “Amo o pecador, mas abomino o pecado”. Entretanto, Ele mesmo afirmou que todos estariam com ele no final(João 12,32).

É uma questão de amor. Todo ser humano é único, inestimável. Somos todos uma família. Os homos(trans)sexuais são discriminados no mundo inteiro. São afastados de suas comunidades onde forem. Fazemos com que duvidem do fato de serem filhos de Deus. Blasfêmia! Culpamos o próximo pelo que ele é. Já dizia Desmond Tutu: “Muito existe que conspira para nos separar; portanto, celebremos aquilo que nos une, aquilo que temos em comum”.

Gays podem ser pessoas boas sim! Um casal gay pode formar um cidadão são e sem transtornos sim! Por que não? Por acaso abandonam a condição de humanos ao fazerem outra opção sexual?
O grande problema é a falta de respeito que grande parte deles tem em ambientes públicos. Por que ser espalhafatoso? Os homens não chegam aos lugares com os pelos do peito saltando da camisa e falando grosso para dizerem que são homens (hetero). Então, me expliquem qual o motivo de os gays chegarem fazendo estardalhaço? Discrição e respeito são coisas requeridas para todos independentemente de raça, gênero e opção sexual. Às vezes, alguns homossexuais atraem preconceitos por essas atitudes pouco discretas, depois se condoem por serem discriminados. Mesmo assim, com esse argumento, não estou justificando a discriminação!

Em estudos recentes, foi descoberto que alguns casos de homossexualidade são genéticos, portanto sem nada a fazer. Dessa forma, respeito sim a homossexualidade como uma condição, como um direito de escolha e como influência do ambiente. Por outro lado, deixo claro, com toda a sinceridade que não a incentivo! Assim como eu tenho a opção de escolher uma mulher para mim, não posso tosar a liberdade outros poderem escolher um parceiro do mesmo sexo para si. Percebo, contudo, que a sociedade não está preparada para recebê-los tão rapidamente. Por isso, não se pode ter uma abertura tão súbita, de uma só vez; similarmente como o caso da maconha (mas aí é assunto para outro texto).

Assim, espero que não surjam mais pessoas com a intenção de gerar sentimentos que só afastam mais ainda as pessoas umas das outras e geram discórdia. Que não alimentemos a alienação e o conflito e não acentuemos a intolerância, a injustiça e a opressão. Precisamos de vida, de união, de amor.

Se a oposição ao apartheid foi uma questão de justiça, a oposição aos conflitos religiosos, à discriminação da mulher e ao preconceito com base na orientação sexual também os são. Logo, espero que o mundo encerre sua perseguição às pessoas por causa de sua opção sexual, que é tão absolutamente injusta quanto o apartheid.

Somos feitos para estarmos juntos. Então, não vamos criar mais formas de nos segregarmos. Todos fomos feitos para sermos acolhidos, não abandonados.
Todos!"
 [Piero Barbacovi]

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Salvos do céu

"Há algum tempo venho refletindo se vale a pena fica pensando em vida posterior. A conclusão é que a vida é boa demais pra não ser vivida. É pouca demais pra não ser aproveitada. É vida demais pra não se viver. Percebi que os ditos religiosos se prenderam demais à ideia de salvação, de céu, de vida 'post mortem', e se esqueceram de viver a vida aqui, agora, nesta Terra.
Nesse pensamento, construímos uma ideia para se opor à de Deus: a de natural. Tudo que fosse natural seria oposto a Deus e, portanto, seria pecado. Tudo que nos aproximasse da nossa natureza, tudo que nos trouxesse para a nossa realidade e essência seria errado. Assim, colocaram no coração dos fieis a noção de que ter prazer tinha algo de errado e que sofrer era sinônimo de sacrifício, de agrado a Deus. Sem demora, construímos a ideia de um deus limitador, exigente e chato. Segundo Nietzsche, esse deus representa decadência, é uma antítese à vida. E, para nos adaptarmos, fizemos uma teia e colocamos Deus lá para se mover conforme queremos. Deus, nossa aranha de estimação.

Assim, por que declarar guerra ao pecado? Por que não declaramos guerra ao sofrimento? Está na hora de conferirmos realidade aos direitos cristãos. Menos bitola, menos cabresto. Mais poesias, mais cultura, mais meios de pensar. Temos muito a aprender, para isso temos de pensar. Por que deixamos de pensar quando se trata de religião? Por que não percebemos que muita coisa não faz sentido? Porque só o que importa é um sentimento egoísta de evangelização e salvação. As pessoas querem 'ganhar almas' para suas respectivas religiões, e não para Deus. Duvida? Do contrário, você não condenaria aqueles que têm convicção num Deus diferente do seu. Às vezes, creio que o que é cristão é o ódio contra o intelecto, contra os sentidos, contra a alegria dos sentidos, contra a alegria em geral.

O que quero dizer é que estou cansado de ver as pessoas se preocupando com futilidades, proclamando aos berros uma vida posterior, enquanto sua vida aqui é uma droga. Anunciam uma ' boa nova' que está mais para 'aceite ou morra'. Boa nova, entre outras coisas, é falar sobre a verdadeira vida: a vida eterna. Ela não é prometida, já está aqui, já foi encontrada, está em nós. Afinal, é eterno enquanto dura.

Vida em abundância não é ser intolerante, não é viver com medo do pecado. Pecado é inerente a nós, cabe a nós lidarmos com ele. Os prazeres da vida são... prazeres da vida. Não tem nada de errado nisso.O problema é que não sabemos lidar com a liberdade. Prazer está relacionado com sensibilidade. Sensibilidade para perceber nas mínimas coisas a beleza da vida. Nada mais, nada menos. Por que sempre ver coisas ruins onde não têm?

Eu, literalmente, não quero viver pensando numa vida que pra mim ainda não existe (apesar de ser uma esperança). Não quero deixar o tempo passar pensando no rota do vento. 'Tempus fugit', o tempo foge, voa. A vida é aqui. O céu... é agora. O paraíso... em nós e no longe que o levamos.

Oro para que todos se vejam salvos do céu que os aprisionam e se prendam em viver bem, com princípios belos, em amar, em fazer com o outro somente aquilo que gostaria que fosse feito consigo mesmo. Oro para que a tão desejada vida que está por vir seja vivida aqui.

Céu é um estado do coração, não algo que vem acima da terra ou após a morte. Se existe O céu, não cabe a nós. Mas sei que Deus não mora lá, mora ao nosso lado. Já dizia Elienai Cabral Jr: 'A distância entre você e Deus é a mesma entre você e o outro. Eu não quero subir para o céu, eu quero ir para onde Deus estiver.'

Eu quero viver!"

[Piero Barbacovi] 


sexta-feira, 26 de outubro de 2012

O decepcionante Deus que creio


"Sinto decepcionar, mas o Deus que creio não é bipolar. Não nos oferece vida, amor e perdão nos nossos poucos anos aqui na terra para depois, quando morrermos, nos condenar eternamente à dor, castigos, aflições e agonias. Não pode ser compassivo e cuidadoso e, num piscar de olhos, ser cruel, torturador e vingativo. Esse Deus é instável, psicologicamente insuportável, assustador e traumatizante. 

Sinto decepcionar, mas o Deus que creio não desce do céu em carros de fogo com milhares de anjos pra guerrear com um inimigo imaginário. Muito menos financia guerras "santas", Cruzadas ou uma guerra no Iraque. Nem pede dinheiro para começar a agir ou realizar milagres. Deus "batalha" com o diálogo, fatiga-se na dialética, transpassa a barriga com uma palavra de amor, que rasga o corpo pela doçura de seu carinho.

Sinto decepcionar, mas o Deus que creio não criou e determinou tudo. Não deixou carmas, castas ou destinos. O Deus que creio quer que façamos parte da criação, que sejamos colaboradores da construção da história. Ele não tem um plano pra nós, mas faz do nosso um dos seus. Esse Deus nos estimula a viver, a ser, a tornarmos, a transformarmo-nos em protagonistas. Então, entra a chamada salvação e o céu. Ambos aqui na Terra. Deus nos incentiva a vivermos uma vida "salva" aqui e agora e a compartilhá-la. Uma vida cheia  de princípios corretos e que a tornam mais prazerosa e bela, de forma a trazer o céu para cá, para este momento.

Sinto decepcionar, mas o Deus que creio não se revela numa só religião, numa só interpretação bíblica e muito menos só na bíblia. Deus é muito maior que qualquer hermenêutica, cultura ou credo. O Deus que creio se revela em qualquer um, em Buda, Maomé, Alá, deuses indígenas. É encontrado num ateu, que faz doações, que vai à periferia, que visita hospitais, não num evangélico que fica realizando milagres a torto e à direita. O Deus que creio está para além dele mesmo.

Sinto decepcionar, mas o Deus que creio não tosa nossa vida, não nos reprime. Creio em um Deus hedonista, que tem prazer nas pequenas coisas e que sabe apreciar uma pipoca com refrigerante, um bom vinho com queijo, uma cerveja com amendoim, um livro do Fernando Pessoa, uma música do Djavan, uma conversa franca, um abraço sincero, um discreto sorriso ou um simples olhar. Creio que Deus se manifesta nos deleites da vida e, por isso, devemos vivê-la plenamente, e não ficar colocando cercas ao nosso redor, com medo de “pecar”. Devemos abrir novos caminhos e apreciar o viver. Sigo Rob Bell, “Viver é gozar do bom mundo de Deus”.

Enfim, estou cansado dessa visão rasa do evangelho, de Deus e da vida. O Deus que creio é o(s) caminho(s) e quer nos fazer entender a vida de forma mais pura, sensata e na sua essência. Ele não faz acepção de pessoas, quer relacionar-se com todos nós, nos procura como estamos.
O Deus que creio decepciona a muitos. Graças a Deus!"

sábado, 22 de setembro de 2012

Aos poucos te percebo


"É curioso como falam de Deus como um guerreiro, como um ser que vai nos fazer vencer batalhas.
Mas aí eu me pergunto: Contra quem estamos lutando? 'Ah, contra os espíritos, principados e potestades...'
O que isso tem a ver com nossa vida prática? Parece que vivemos num mundo paralelo, numa realidade alheia à dos outros, onde andamos acima do sobrenatural.

Deus não vem pra vencer nossas 'lutas'. Não mesmo! É engraçado esse senso seletivo de livre arbítrio.
Livre arbítrio pra quando for conveniente; quando não, 'que Deus intervenha'!
Escutei, há alguns dias, que Deus deve ser lembrado como uma espada! Triste...
Deus vem pra estar ao nosso lado, e não para nos castigar. Não acredito num deus que precise de castigos ou aflições para nos ensinar alguma coisa...
Penso que Ele está na recuperação da dor, na visita ao hospital, no ombro amigo, na conversa...
Ele se alegra que consigamos tirar coisas boas das ruins, na verdade, é esse o intuito!

Pena que o povo esquece que a vida é aqui e agora, que os denominados cristãos não estão isentos das dificuldades da vida...
Prefiro pensar que são elas que tornam a vida bela. Nelas aprendemos a dar valor aos pequenos detalhes, às pequenas alegrias. E,  nessas percepções, enxergamos Deus.
'Onde Deus está?', uma pergunta frequentemente feita. Taí! Ele está nas coisas pequenas e rotineiras; simples e passageiras; nos pequenos prazeres, nos tão mal falados prazeres!
Enfim, espero ver um dia em que mais pessoas vejam um Deus que seja lembrado pelo/como amor, que pensem em flores em vez de espadas, pensem que Deus foi humano e que sofreu, mas que viveu!
Viveu com amor..."
 [Piero Barbacovi]

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Vida


"Entre o ceticismo e o tradicionalismo deixo minhas trouxas
Naquele mínimo pedaço entre o além e o aquém
Sento, olho para o céu e paro
Finalmente paro! Doce tempo de pensar...
Escutar o invisível, sentir o intocável...
Às vezes, acho que o vento é o próprio Deus!
A luz, no meio da escuridão, brilha fraca... mas brilha!
Esse pequeno resplandecer é mais que suficiente: é a faísca na combustão
Essa luz vem do silêncio... mas, por que ficar calado?
Porque não é mais tempo de falar.
Muitos já falaram, muitos já ouviram, quase todos já se fecharam
É tempo de ser, é tempo de tornar-se, é tempo de calar
Calar e pensar. Volto pro início
Paro e penso
Como é bom, como é doce o gosto do saber que nada sei
Aí, descubro minha finitude, tangencio minha humanidade
Rapidamente, percebo que preciso de mais, que quero mais pros outros
Que procuro por vida. Vida verdadeira
Mais que puro prazer. Felicidade. Vida
Mais que diversão. Saúde. Vida
Mais que fazer muita coisa em pouco tempo
Fazer muito em pouco. Vida
Vida... Vida... Já ouvi falar que esse é um dos nomes de Deus..."
[Piero Barbacovi]

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Será, Felicidade?

"Nem todo prazer traz felicidade
Felicidade não é tapete vermelho, é terra batida (vermelha, se quiser)
Passos curtos, pés no chão
Cabeça longe, coração no eterno
Eterno no coração, simples no eterno
Simples. Por que complicar o simples?
O complexo é simples no amor
Prazer, felicidade, certeza, saudade
Próximos, distantes, simples, complexos
Todos somos transformados, todos transformamos
Todos experimentamos, todos já percebemos
Todos?" 
[Piero Barbacovi] 

terça-feira, 10 de abril de 2012

Quem disse que precisamos converter?


"É corriqueiro ouvirmos falar que precisamos converter as pessoas. Falar de Deus, a tempo e fora de tempo; em todos os lugares, a fim de que possamos alcançar o maior número de pessoas e 'convertê-las'.
Mas, enfim, será que realmente precisamos 'converter'? Acho que essa expressão, assim como muitas outras foi distorcida, pois, na realidade, quem precisa de conversão somos nós. Vendo isso, a priori, pode parecer uma heresia, soar mal aos ouvidos, mas é a mais pura verdade.

Jesus, quando ia falar com as pessoas, não subia num salto alto, não se isolava dos mais pobres, não excluía os já excluídos. Pelo contrário, ele descia até o mais humilde e se colocava na mesma condição, a fim de compreendê-lo com mais verdade. Ele, a cada momento, convertia-se ao próximo. Então, já entendidas as dificuldades por que cada um passava e quando se colocava completamente no lugar daqueles que viviam um estilo de vida dito 'errado', ele compreendia e falava com mais sabedoria. 
Aliás, escutava mais que falava... Só então, quando as pessoas davam abertura, já quebrantadas pela confiança, ele as tocava com uma singeleza poderosa.

Dessa forma devemos ser nós. Escutando mais que falando, seremos capazes de tocar o próximo e, enfim, transmitir a mensagem que tanto queremos levar a todos os lugares. E que, assim como Jesus, que não ansiava por mais seguidores, mas que buscava por transformação de vidas, sejamos nós. Acha que é mentira? Procure quantas vezes Jesus falou 'Vem e me segue' e quantas falou 'Vai e volta pra tua família'. Essa última significa uma vontade de que o transformado mostrasse a mudança por que passara a fim de trazer felicidade para os que haviam sofrido com seu antigo estilo de vida.

Ainda assim, é muito comum apontarmos o dedo para homossexuais, travestis, mendigos, bêbados, etc, sem sabermos pelo que passaram em tempos passados.
Por isso, que, assim como Cristo, sejamos convertidos antes de converter. Que busquemos transformação de vidas antes de falar incessantemente de uma Palavra que só faz sentido pra nós que já a conhecemos e já a vivemos.
Que abramos nossos olhos para a fragilidade alheia, que pensemos e escutemos mais antes de falar (isto se for preciso falar) e que a mensagem que tanto queremos transmitir flua naturalmente em nossas atitudes cotidianas e em nosso estilo de vida..."
[Piero Barbacovi]